A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é uma igreja hierárquica, organizada estruturalmente segundo a mais antiga e tradicional divisão em dioceses, encabeçadas por um bispo. Entretanto, nossa Igreja também prima por ser um espaço democrático, onde o laicato toma papel ativo no processo de administração eclesial.
A estrutura básica da IEAB é a seguinte: Sínodo Geral – Câmara de Bispos – Câmara de Clérigos e Leigos – Dioceses e Distrito Missionário – Bispo-Primaz – Secretaria Geral – Conselho Executivo – Grupos de Trabalho – Educação Teológica – Ordens e Comunidades Religiosas – Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento
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– Origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Saiba mais sobre a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB):
Quando as pessoas perguntam pela origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), logo querem saber quem foi o seu fundador. A resposta geralmente encontrada nos livros de história de que foi Henrique VIII não corresponde à verdade, pelo simples fato de que o controvertido rei não podia fundar algo que já existia. A resposta correta é Jesus Cristo. Todas as igrejas históricas tiveram a sua origem nele e se espalharam pelo mundo afora, adquirindo no curso da história características e feições próprias.
Algumas se afastaram tanto de seu verdadeiro fundador, que perderam as suas raízes históricas, sendo por isso consideradas muitas vezes como seitas. Outras conservaram a sua origem e tradição apostólicas. É o caso da Igreja Anglicana, que atravessou os séculos sem perder as suas características, que remontam aos tempos dos apóstolos.
A origem da IEAB foi fruto da expansão do Cristianismo nos primeiros séculos, que alcançou primeiramente as Ilhas Britânicas, passando depois pelos Estados Unidos no século XVII e chegando finalmente ao Brasil em 1890.
Supõe-se que o Cristianismo chegou à Inglaterra por volta do século III. Nessa época, o território inglês estava dominado por um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores romanos levaram à colônia as suas leis, os seus costumes e a sua religião. Entre eles estavam provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente ao Deus verdadeiro, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império, ao imperador e aos deuses das religiões de mistério.
Claro que estamos aqui no terreno das hipóteses e conjecturas. A história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas, sagas e tradições, que falam das longas viagens missionárias, que teriam sido realizadas àquela ilha pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia.
A primeira referência histórica encontrada sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi feita por Tertuliano em 208 a.D. Tertuliano fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao Cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O certo é que no ano 314 da era cristã, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Os nomes deles eram Eborium, de York, Restitutus, de Londres, e Adelfius, sem diocese determinada, mas provavelmente de Lincoln. Cada um deles estava acompanhado por um presbítero e um diácono. A presença desses antistes e seus companheiros mostra que já havia uma igreja organizada na grande ilha. Embora não tenhamos informações de que os bispos ingleses tivessem participado do Concílio de Nicéia em 325, Atanbásio escreve que a igreja inglesa observava as decisões daquela histórica reunião ecumênica.
No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram praticamente todas as igrejas existentes, reduzindo consideravelmente a prática da fé cristã durante quase150 anos. O Cristianismo inglês viveu um período de duras perseguições. Os cristãos foram obrigados a se refugiar nas regiões montanhosas do País de Gales. Ali, desenvolveram a Igreja céltica, tendo como principais líderes São Patrício e São Columba
e como centro missionário a abadia da Ilha de Iona, na Escócia. Era um Cristianismo diferente do Cristianismo romano. Em 597, o Papa Gregório I, o Grande, preocupado com a conversão dos anglo-saxões, enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os invasores. Com a chegada de Agostinho à Cantuária, o Cristianismo céltico ficou como que meio marginalizado. A presença romana não foi bem aceira no início, provocando uma tensa situação. Mas a igreja inglesa aprendeu desde o começo a conviver com as diferenças. A obra missionária iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana, liderada por Teodoro de Tarso que, mais hábil que o seu antecessor, conseguiu reunir as igrejas céltica e romana numa só igreja, até a separação provocada por Henrique VIII no século XVI.
No final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase tudo, deixando a impressão de que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1066, houve uma invasão normanda, mas com a diferença de que o rei já era cristão e, por isso, a Igreja foi protegida. Doze séculos depois, a parte inglesa da Igreja julgou necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo definitivamente a sua milenar relação com a Igreja de Roma.
Os primeiros sinais da reforma inglesa, que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, vem antes com Santo Anselmo (1034-1109). Anselmo só havia aceitado o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as propriedades da Igreja
fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou entre a coroa inglesa e a Igreja de Roma confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma. O fato é que Henrique VIII não fundou uma nova igreja, mas simplesmente separou a Igreja que á existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e pessoais. Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu com essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento e da própria Igreja.
Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanista, ora protestante ou evangélica. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela restauraram-se os controvertidos Atos de Uniformidade e de Supremacia, que devolveram à rainha o mesmo poder sobre a Igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a Igreja Anglicana se desenvolveu e se organizou principalmente depois da independência americana e 1776, com o nome de Igreja Protestante Episcopal dos EUA. A Igreja americana teve seu primeiro bispo em 1784 e manteve a Igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica, a Igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições. Em 1824, foi fundado o Seminário Teológico de Virgínia, de onde mais tarde saíram os missionários que estaveleceram a Igreja Episcopal Anglicana no Brasil.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Início no Brasil
Entretanto, a igreja voltada especialmente para os brasileiros começou intencionalmente em 1890. Foi nesse ano que dois missionários americanos, Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris, organizaram a missão e Porto Alegre. O primeiro culto foi realizado na tarde do dia 1º de junho de 1890, Domingo da Trindade, em Porto Alegre, na r. Voluntários da Pátria nº 387, numa ampla casa alugada, que ficou conhecida como Casa da Missão. Na época, a cidade tinha aproximadamente 60 mil habitantes. No ano seguinte, chegaram os missionários William Cabell Brown, John Gaw Meen e a professora Mary Packard. Esses cinco missionários podem ser considerados como os verdadeiros fundadores da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) em solo brasileiro.
Em seguida, estabeleceram missões em Santa Rita do Rio dos Sinos (hoje Nova Santa Rita), Rio Grande e Pelotas. Essas três cidades e a capital do Estado logo se transformaram em importantes pontos estratégicos e centros irradiadores da expansão e do desenvolvimento da nascente igreja.
Desde o início, os missionários contaram com a imprescindível participação de muitos brasileiros. Entre esses intrépidos pioneiros e destemidos arautos do evangelho estão Vicente Brande, o primeiro a acolher os missionários em Porto Alegre; Américo Vespúcio Cabral, grande pregador e por isso conhecido como o “João Crisóstomo brasileiro”; Antônio Machado Fraga, que ajudou a fundar a então Capela de Redentor em Pelotas, hoje Catedral Diocesana, e depois ele mesmo fundou o trabalho em São Leopoldo e Montenegro; Boaventura de Souza Oliveira, que se juntou aos missionários ainda em São Paulo para vir ao sul com a família; Júlio de Almeida Coelho, que trabalhou a maior parte de seu ministério em Jaguarão e São Gabriel; Antônio José Lopes Guimarães, fundador da igreja em Bagé; Carl Henry Clement Sergel, um ex-bancário inglês que ajudou William Cabell Brown a estabelecer a igreja no Rio de Janeiro e que construiu as igrejas de Santa Maria e Santana do Livramento. Esses pioneiros clérigos nacionais ajudaram também a implantar a igreja em Viamão (1895), Jaguarão (1898), Santa Maria (1900), Bagé (1903), São Leopoldo (1904), São Gabriel (1906), Rio de Janeiro (1908) e em muitas outras cidades e zonas ruais no Rio Grande do Sul, onde se concentra a maior parte. Muitos outros vieram depois e implantaram igrejas e capelas em vários lugares do território nacional, principalmente no nordeste, onde hoje a igreja cresce tanto quanto crescia no início de sua história.
Em 1899, a IEAB teve o seu primeiro bispo na pessoa do missionário Lucien Lee Kinsolving. Agora, o tríplice ministério da Igreja (bispos, presbíteros e diáconos) estava completo. Em 1907, a novel missão brasileira se transformou em distrito missionário, vinculado a Convenção Geral da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Em 1925, a Igreja Episcopal teve o seu segundo bispo na pessoa de William Mathew Merrick Thomas, um missionário que havia chegado ao Brasil em 1904. Primeiro como bispo sufragâneo e depois como bispo diocesano, Thomas consolidou o trabalho desbravado por Kinsolving. Mas o primeiro bispo brasileiro só veio em 1940, com a sagração de Athalício Theodoro Pithan como bispo sufragâneo, quando a Igreja Episcopal completou 50 anos de atividades no Brasil.
A igreja crescia e as distâncias entre as comunidades locais aumentavam, dificultando o atendimento das paróquias e missões espalhadas por todo o país. Era preciso reorganizar o distrito missionário. Um memorial do clero do Rio de Janeiro deu início ao processo que resultou na divisão do distrito em três dioceses. Isso foi em 1950. A nova divisão era formada por três regiões eclesiásticas: Diocese Meridional, com sede em Porto Alegre (RS); Diocese Sul-Ocidental, com sede em Santa Maria (RS); e Diocese Central (hoje denominada como Diocese Anglicana do Rio de Janeiro), com sede na ex-capital federal. Mais tarde 04 novas dioceses foram criadas: Diocese Sul-Central (atual Diocese Anglicana de São Paulo) em 1979, Diocese Setentrional (atual Diocese Anglicana de Recife) em 1976, Diocese Missionária de Brasília (atual Diocese Anglicana de Brasília) em 1985, Diocese Anglicana de Pelotas em 1988, Diocese Missionária de Curitiba em 2003, Diocese Missionária da Amazônia em 2006, com sede em Belém do Pará, e o Distrito Missionário do Oeste.
Em 1965, veio a autonomia administrativa, quando a Igreja brasileira se transformou na 19ª Província da Comunhão Anglicana e elegeu o seu primeiro bispo primaz na pessoa do bispo Egmont Machado Krischke. O processo de emancipação da IEAB, até então dependente da igreja americana, se completou com a independência financeira adquirida em 1982.
Hoje, a IEAB tem templos, missões e instituições educacionais e assistenciais em mais de 150 diferentes localidades do país, concentrando-se a maior parte no Rio Grande do Sul. Ao longo de sua já centenária história, a Igreja do Brasil acumulou uma relação de 103 mil membros batizados e 45 mil confirmados (para conhecer mais esta igreja, veja o livro Notas para uma História da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, do rev. Oswaldo Kickhöfel, Livraria Anglicana, Porto Alegre, 1995).
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Sacramentos
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) é uma igreja sacramental. Os sacramentos são sinais externos e visíveis de uma graça interna e espiritual. Os sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo como meios seguros para receber esta graça.Os sacramentos expressam a crença da Igreja na natureza sacramental do universo e da vida. Isso significa que Deus está presente e atuante na criação em todos os seus aspectos. Esta verdade foi expressa de maneira definitiva pela entrada de Deus na história humana. Deus se fez homem em Jesus Cristo. Existem dois sacramentos: o Santo Batismo e a Santa Eucaristia. Esses dois sacramentos foram ordenados por Cristo como necessários para a salvação, ou seja, são os principais meios de graça sacramental para aqueles que aceitam o evangelho derentor de Jesus Cristo.
Há outros ritos, chamados também de sacramentos menores, tradicionalmente aceitos e reconhecidos pela Igreja. Embora não tenham sido especificamente ordenados por Jesus, a IEAB os reconhece como tendo também caráter sacramental. São cinco os sacramentos menores: a Confirmação, a Penitência, as Ordens Ministeriais (Bispo, Presbítero e Diácono), o Matrimônio e a Unção de Enfermos.
Santo Batismo
A filiação à Igreja se dá pelo batismo, que é o sacramento da iniciação cristã, o ato de ingresso na comunidade eclesial. O sinal externo do batismo é o derramamento da água ou imersão em nome da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) e a graça interna e espiritual é a nova vida ou a morte para o pecado e a ressurreição dos mortos. O batismo é o nascimento para a vida eterna, que começa na vida terrena.
Pessoas de qualquer idade podem ser batizadas, desde que não tenham ainda sido batizadas. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) pratica o batismo infantil, como fazia a Igreja primitiva, embora os primeiros convertidos ao Cristianismo fossem adultos. A Igreja é a família de Deus e, como acontece na família terrena, os pais cuidam dos filhos até que adquiram a maioridade para assumirem a sua própria responsabilidade. A Igreja Episcopal reconhece como válido qualquer batismo com água, administrado em nome da Santíssima Trindade. Não pratica o rebatismo. Em caso de dúvida, a liturgia do batismo possui uma fórmula para o batismo condicional. Qualquer pessoa batizada pode participar da Santa Eucaristia e receber regularmente os elementos da santa comunhão, se para isso se julgar digna diante de Deus.
Na Igreja primitiva, a vida cristã era muito difícil e incerta. Havia a possibilidade da criança batizada ficar aos cuidados de uma família pagã. Seguindo o antigo costume, a IEAB faz uso do costume de adotar padrinhos. Os deveres dos padrinhos são grandes e importantes e fazem parte da administração do santo batismo. Por isso, exige que os padrinhos sejam também batizados, ou que, pelo menos, recebam alguma instrução sobre os deveres e responsabilidades que assumiram, e expressem a vontade de cumpri-los fielmente.
Santa Eucaristia
A Santa Eucaristia, também chamada de Santa Ceia, Santa Comunhão ou Santa Missa, é o alimento espiritual por excelência dos cristãos e o principal ato de adoração pública da comunidade local. Os sinais externos e visíveis do sacramento da Eucaristia são o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote. A graça interna e espiritual é o corpo e sangue de Cristo. Na última ceia com os discípulos, Jesus disse que toda a vez que comermos deste pão e bebermos deste vinho, estamos fazendo isso em sua memória. A palavra que traduzimos por memória vem do grego anamnesis, que significa muito mais do que simplesmente lembrar ou recordar: significa estar presente.
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) não procura explicar teologicamente como se dá a presença real de Cristo na Eucaristia. Esse santo sacramento é um profundo mistério (e todo mistério é inexplicável), que reúne milhões de cristãos todos os domingos há dois mil anos, para participar deste pão e deste vinho em comunhão com Deus, com Jesus e com todos os cristãos de todos os tempos e em todos os lugares.
Confirmação
Na Igreja Primitiva, o bispo impunha as mãos sobre os novos membros, pedindo os dons do Espírito Santo para guiar as suas vidas no conhecimento e no amor de Deus. Quando grandes multidões começaram a se filiar à Igreja, os bispos permitiram que os presbíteros batizassem e celebrassem, mas reservaram para si a imposição das mãos. A Igreja espera que todo o membro batizado, em determinado momento de sua vida, compareça na presença do bispo, principal guia espiritual e sucessor dos apóstolos, para reafirmar a sua intenção de viver como cristão e receber o tradicional rito da Confirmação, quando se julgar suficientemente preparado para fazer sua própria decisão pessoal de seguir a Jesus Cristo e renovar os votos batismais, que os padrinhos fizeram em seu nome.
A palavra Confirmação vem do verbo confirmar, que significa também tornar firme, fortalecer. É a segunda fase da iniciação cristã. Os primeiros cristãos convertidos na Igreja Primitiva eram adultos e a imposição das mãos era feita logo após o batismo. A pessoa confirmada assume o compromisso de ser um mensageiro das Boas Novas da salvação na comunidade local. A Confirmação é sempre administrada por um bispo, que outorga ao novo confirmado a responsabilidade de ser uma testemunha do evangelho de Jesus Cristo n mundo. Para ser confirmado, a pessoa precisa ser batizada, ter aceito a Jesus Cristo como seu Salvador e receber instrução apropiada para ser um fiel membro da comunidade cristã, a Igreja.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Organização
Há três níveis de organização administrativa na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB): a congregação local ou paróquia; a diocese, formada pelas paróquias e missões de uma determinada área geográfica e dirigida por um bispo; e a igreja nacional ou província, formada pelas dioceses. O principal líder no plano nacional é o bispo primaz. O órgão legislativo máximo é o Sínodo, que se reúne a cada três anos, para aprovar as leis, os programas e projetos nacionais.
O Sínodo é formado por duas câmaras: a Câmara dos Bispos e a Câmara dos Clérigos e Leigos. A Câmara dos Clérigos e Leigos é eleita pelos respectivos concílios diocesanos. Para executar os programas e projetos aprovados pelo Sínodo é eleito um Conselho Executivo, que representa a Igreja no interregno sinodal. O Conselho Executivo é presidido pelo bispo primaz. Além disso, as dioceses realizam concílios anuais. Os concílios diocesanos são formados pelo clero da diocese como membros natos e pelos representantes leigos, eleitos pelas respectivas paróquias e missões.
A IEAB é parte integrante da Comunhão Anglicana como a 19ª Província. Uma província anglicana é formada por cinco dioceses, no mínimo. A diocese é uma unidade geográfica por excelência. A paróquia está subordinada à diocese e só pode ser considerada parte dela, se estiver em união com o bispo e com a diocese. O bispo é o pastor chefe da diocese. Ele é eleito pelo concílio da diocese, mas a sua eleição necessita da aprovação da Câmara dos Bispos e dos Conselhos Diocesanos das outras dioceses. O bispo tem sua autoridade limitada. Uma diocese pode eleger um bispo sufragâneo para auxiliar o bispo diocesano. O bispo sufragâneo não é necessariamente o sucessor do bispo diocesano. A diocese pode também eleger um bispo coadjutor para auxiliar o bispo diocesano até a sua aposentadoria. O bispo coadjutor é o sucessor natural do bispo diocesano.
A exemplo da Igreja primitiva, a autoridade suprema da Igreja Anglicana reside na própria igreja como um todo e não em algum indivíduo ou grupos de indivíduos. Dessa forma, nenhuma doutrina pode ser considerada como norma de fé sem a sua aceitação pela Igreja toda, reunida em concílio universal, em que a Igreja inteira esteja representada por delegações devidamente credenciadas. O ministério da IEAB é exercido por três ordens: bispos, presbíteros e diáconos, em sucessão histórica desde os tempos apostólicos. As mulheres também participam desse ministério ordenado em igualdade de condições com os homens.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Livro de Oração Comum
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) é uma igreja litúrgica. A Adoração pública e a adoração privada de seus membros se expressam por meio de um livro, o Livro de Oração Comum, que é uma espécie de Bíblia da adoração coletiva e individual. Mais da metade do conteúdo de sua liturgia foi retirada da Bíblia. As partes mais importantes do Novo Testamento estão nas porções das epístolas e dos evangelhos, que são lidos aos domingos e nos dias de festas litúrgicas. As passagens bíblicas que estão no lecionário do Livro de Oração Comum possibilitam uma leitura sistemática do Antigo Testamento e duas leituras do Novo Testamento durante o ano. As orações da Igreja sempre foram oferecidas a Deus por meio de um livro desde os tempos primitivos. Ao elaborar e adotar os seus próprios formulários litúrgicos, a IEAB não fez outra coisa senão seguir a antiga prática.
O tradicional Livro de Oração Comum foi entregue pela primeira vez para uso coletivo e particular em 1549. O livro inglês não era um livro novo, mas o produto reformado de antigas liturgias usadas e desenvolvidas ao longo de um milênio. Desde o começo do século XI, na Igreja da Inglaterra, o Uso de Sarum, nome latino da cidade e diocese de Salisbury, forneceu grande parte da estrutura litúrgica do atual livro.
Vários critérios nortearam a revisão do Livro de Oração Comum brasileiro depois de 1965, quando a Igreja Episcopal passou a decidir sobre os seus próprios formulários litúrgicos. Citamos apenas os cinco mais importantes:
1. Uso na língua e linguagem do povo;
2. Participação efetiva da congregação;
3. Simplicidade do rito;
4. Equilíbrio entre Palavra e Sacramento;
5. Fidelidade bíblica e patrística.
A expressão oração comum significa que as orações são usadas coletivamente, em conjunto, quando os membros da comunidade se reúnem para adoração. Mas podem ser usadas também individualmente, porque nenhuma dessas duas formas de adoração individual e comunitária é completa sem a outra. Em Cristo somos todos tanto indivíduos, quanto membros uns dos outros.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Comunhão Anglicana
O conjunto de províncias, igrejas nacionais ou regionais forma a grande família da Comunhão Anglicana, as quais estão em permanente comunhão com a Sé de Cantuária. Há um padrão de unidade compartilhado pelas igrejas que compõem hoje a Comunhão Anglicana. A relação dos anglicanos com Deus e de uns com os outros se dá por meio do testemunho de fidelidade às Escrituras, aos Credos, aos Sacramentos e ao Ministério Histórico (episcopado). Estes quatro pontos forma o chamado Quadrilátero de Lambeth.
Quadrilátero de Lambeth: foi elavorado em 1888 e se tornou a base fundamental anglicana para o diálogo ecumênico:
As Sagradas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos contêm todas as coisas necessárias à salvação como regra e norma última de fé;
O Credo dos apóstolos, como símbolo batismal, e o Credo Niceno, como declaração suficiente da fé cristã;
Os dois sacramentos ordenados pelo próprio Cristo – o Batismo e a Eucaristia – administrados com o uso indefectível das palavras da instituição de Cristo e os elementos ordenados por Ele;
O Episcopado Histórico, adaptado localmente nos métodos de sua administração às diversas necessidades das nações e povos chamados por Deus à unidade de sua Igreja.
A relação de responsabilidade mútua e de interdependência entre as províncias mantêm as igrejas nacionais unidas por meio de quatro instrumentos de caráter consultivo:
O Arcebispo de Cantuária: As igrejas anglicanas se relacionam por meio de laços de afeição e de lealdade e estão em plena e permanente comunhão com a Sé de Cantuária. O Arcebispo de Cantuária é o símbolo da unidade anglicana. Ele convoca e preside a Conferência de Lambeth, o Conselho Consultivo Anglicano e a Reunião dos Primazes. O atual Arcebispo de Catuária é Rowan Douglas Williams, entronizado em 2002, como o centésimo quarto arcebispo em ordem de sucessão. Essa ordem de sucessão, que nunca foi interrompida na história do Anglicanismo, vem desde 597, com Santo Agostinho, que foi o primeiro Arcebispo de Cantuária.
A Conferência de Lambeth: A Conferência de Lambeth é uma assembléia de todos os bispos da Comunhão Anglicana. Ela se reúne a cada dez anos para discutir e aprovar resoluções sobre os mais variados temas de interesse dos cristãos e do mundo, em caráter consultivo. A primeira Conferência de Lambeth foi realizada em 1867 e reuniu 76 bispos. A última foi realizada em 2008 e reuniu 800 bispos.
O Conselho Consultivo Anglicano: Este conselho também é uma assembléia internacional, formada não só por bispos, mas também por presbíteros e leigos, que se reúnem para trabalhar sobre temas de interesse comum. A necessidade de um contato mais freqüente e representativo entre as províncias e as igrejas anglicanas deu origem a este conselho em 1969. Suas atividades e projetos se desenvolvem no campo do companheirismo, do diálogo ecumênico, das discussões teológicas e dos círculos de oração. Ele se reúne a cada três anos e tem um observador junto às Nações Unidas.
A Reunião dos Primazes: Desde 1979, os bispos primazes, arcebispos ou bispos presidentes das 38 províncias anglicanas vêm se reunindo a cada dois ou três anos para consultas mútuas e recomendações sobre questões teológicas, sociais e internacionais de interesse das igrejas anglicanas na sua missão de evangelizar em nome de Jesus Cristo.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Igreja Ecumênica
Antes de sua paixão e morte, Jesus orou em favor de seus discípulos para que permanecessem unidos, assim como Ele e o Pai estavam unidos um ao outro. Assim também os episcopais ou anglicanos do mundo inteiro oram e trabalham para que as igrejas permaneçam unidas em amor e obediência a Deus como um só corpo pelo poder e ação do Espírito Santo.
As igrejas episcopais ou anglicanas são igrejas essencialmente ecumênicas. O ecumenismo faz parte de seu modo de ser. No plano internacional, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil participa como membro do Conselho Mundial de Igrejas desde 1966, e foi uma das igrejas fundadoras do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). No plano nacional, participou também como membro fundador do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e do Serviço Interconfessional de Aconselhamento (SICA).
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Maneira de Ser
A forma de ser das igrejas episcopais ou anglicanas é para muitas pessoas motivo de confusão, principalmente quando ouvem dizer que essas igrejas são tanto católicas quanto evangélicas, tanto conservadoras quanto liberais, tanto hierárquicas quanto democráticas, tanto ricas quanto pobres. O curioso é que essas afirmações são verdadeiras, porque as igrejas episcopais ou anglicanas são igrejas abertas, liberais e democráticas, onde todos esses elementos se conjugam e se completam.
O Livro de Oração Comum, o mais importante livro depois da Bíblia, estabelece o seu culto não segundo uma opinião individual, mas segundo o pensamento da Igreja como um todo, representando a experiência litúrgica da Igreja através dos séculos. Sua doutrina estabelece aqueles elementos que acredita que são os verdadeiros valores morais e cristãos.
Na sua longa história, a pastoral das igrejas episcopais ou anglicanas e a liberdade individual não determinam automaticamente que os seus membros têm de fazer isso ou aquilo, mas que, para o seu próprio bem, devem seguir os ensinamentos da Igreja e decidir por si mesmo sobre o caminho a tomar. É uma igreja que não despreza o uso da razão e da investigação científica. Sua posição liberal e democrática a coloca em posição privilegiada para dialogar ecumenicamente com os demais ramos do Cristianismo.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Como ser Membro
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) possui quatro categorias de membros:
1. Membros batizados: são todas as pessoas que receberam devidamente o santo batismo e estão arroladas numa paróquia, capela ou missão
2. Membros comungantes : são todas as pessoas batizadas que participam assiduamente da Santa Eucaristia.
3. Membros confirmados: são todas as pessoas confirmadas segundo o uso e preceitos do Livro de Oração Comum, e aquelas que, confirmadas por outro bispo de sucessão apostólica, foram devidamente recebidas em comunhão por um bispo da IEAB.
4. Membros em plena comunhão : são todas as pessoas confirmadas que participam assiduamente da Santa Eucaristia e outros ofícios e contribuem fielmente para a manutenção da paróquia, capela ou missão que freqüentam.
A primeira coisa a fazer para ser membro da IEAB é falar com o reverendo da paróquia, capela ou missão mais próxima de sua casa. Ele vai lhe orientar a partir de sua vontade de se filiar à Igreja. Certamente que você terá de participar dos cultos dominicais e das classes de instrução, para aprender mais sobre Jesus Cristo e sua Igreja. Se já foi batizado, será apresentado ao bispo para receber o rito apostólico da Confirmação. Caso já tenha sido confirmado por outra igreja de sucessão apostólica (Igreja Católica Romana ou Igreja Ortodoxa, por exemplo), será admitida pelo bispo à comunhão da Igreja Episcopal. Qualquer pessoa batizada, confirmada ou recebida em plena comunhão pelo bispo, que comunga e contribui regularmente para o sustento de sua igreja, é considerada membro em plena comunhão da IEAB.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Ministério Ordenado
Desde os tempos apostólicos, três ordens de ministros se desenvolveram na Igreja cristã: diácono, presbítero e bispo. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) conservou essa estrutura eclesiástica ao longo de sua história. O diácono é um auxiliar do presbítero na administração dos sacramentos e do batismo, na instrução do povo e na pregação, se para isso foi autorizado pelo bispo. Quando está oficiando, o diácono usa por cima dos paramentos uma estola sobre o ombro esquerdo como sinal de seu ofício. A segunda ordem é o presbiterado, também conhecido como sacerdócio. O presbítero celebra os sacramentos, administra a doutrina e a disciplina da igreja e é o líder de uma paróquia, missão, capela ou congregação. O presbítero usa a estola sobre os dois ombros como símbolo de seu ofício. O diácono e o presbítero são também chamados de pastores, reverendos ou padres.
Todos esses nomes são títulos de honra pela função que exercem na Igreja. A terceira ordem é o episcopado. O bispo é um presbítero sagrado para ser o pastor-chefe da Igreja. É ele quem ordena os diáconos, os presbíteros e outros bispos e administra privativamente o rito apostólico da Confirmação.
O bispo é admitido no ofício episcopal segundo a histórica tradição dos apóstolos pela imposição das mãos de três outros bispos. A palavra episcopal significa que a igreja é governada e liderada por bispos (episkopos) que, em virtude de sua função histórica, são considerados como os sucessores dos apóstolos e como símbolos de unidade da Igreja.
Ordenação Feminina
Como já havíamos dito, na IEAB, as mulheres também participam do ministério ordenado em igualdade de condições com os homens. Foi uma árdua e merecida conquista.
No mundo, a primeira província a ordenar mulheres às sagradas ordens foi a Igreja Diocese Hong Kong. Na época da II Guerra Mundial, a Igreja diocesana de Hong Kong ordenou, pela primeira vez, a revda. Florence Lee Tim Oi ao presbiterado. Isso aconteceu como uma resposta à premente necessidade de alimentar espiritualmente uma comunidade chinesa em Macao. Nenhum presbítero poderia cruzar os territórios ocupados para chegar a essa comunidade carente de liderança pastoral. Por isso, o bispo Mok Sal Tseng, Sufragâneo de Hong Kong autorizou a diácona Florence a celebrar a Eucaristia em Macao. Ao retornar da viagem, o bispo R. O. Hall, diocesano, decidiu ordena-la presbítera. Isso foi em 1944.
No Brasil, em maio de 1985, a revda. Carmen Etel Alves Gomes foi a primeira mulher a ser ordenada às sagradas ordens. Foi a consolidação de um processo iniciado em 1973, acumulando diversas conquistas femininas, e que teve fim no Sínodo realizado em junho de 1984, o qual aprovou a ordenação feminina na IEAB.
Hoje, cada vez mais, as mulheres têm um papel decisivo na nossa Igreja. Outra conquista importante foi a eleição, na Catedral da SS. Trindade Porto Alegre, da primeira deã brasileira a revda. Marinez Rosa dos Santos, em janeiro de 1999. É mais um marco histórico na caminhada do ministério feminino ordenado do Brasil.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Igrejas Nacionais
Em diversos países do mundo, as igrejas anglicanas se tornaram autônomas, ou seja, igrejas nacionais ou regionais (incluindo parte de uma nação ou mais de uma nação), formando o que hoje chamamos de Províncias Anglicanas ou Igrejas Anglicanas.
No Brasil, a Igreja Anglicana se chama Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB). Já teve outros nomes no passado. A palavra anglicana, antes de significar inglês, representa a grande família cristã internacional. A expressão episcopal indica que ela é governada por bispos. No mundo inteiro, os anglicanos somam hoje mais de 80 milhões de membros, espalhados em 44 províncias, e 160 diferentes países, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul.
Os anglicanos começaram a celebrar o seu culto a Deus em terras brasileiras no início do século XIX, quando foi estabelecida a primeira capelania inglesa no Rio de Janeiro. Isso foi em 1819. A finalidade das capelanias era atender às necessidades espirituais dos súditos da coroa inglesa, que residiam no Brasil. Isso foi possível graças a um tratado assinado entre Portugal e a Inglaterra em 1810. Embora o tratado tivesse objetivos primordialmente comerciais, continha um artigo que garantia aos ingleses o direito de terem templos próprios, desde que fossem construídos de tal modo que externamente se assemelhassem a casas de habitação. Mais tarde, foram criadas capelanias em Niterói, São João Del Rei, São Paulo, Salvador, Recife e Belém do Pará. Hoje as capelanias inglesas estão incorporadas à IEAB.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Doutrinas Básicas
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) expressa a sua fé nas palavras de dois grandes credos históricos do Cristianismo: o Credo Apostólico e o Credo Niceno. Esses dois documentos credais foram escritos no tempo da Igreja indivisa e constituem a confissão normativa da fé católica ainda hoje. Mesmo reconhecendo que as afirmações humanas sobre a natureza de Deus não são suficientes para expressar toda a verdade sobre Deus, sobre o mundo e sobre a própria vida. A IEAB estimula o estudo e a pesquisa sobre a verdade em todos os campos do conhecimento humano. Não antepõe limites ao estudo e à investigação honesta, e favorece o uso da razão como faculdade dada por Deus para enriquecer e ampliar a verdade revelada. Acredita que o Espírito Santo guia e orienta os homens na busca da verdade, capacitando a Igreja a relacionar a verdade humana com a verdade de Deus revelada em Jesus Cristo. Uma das principais características das igrejas episcopais ou anglicanas é a sua abertura para as coisas novas, sem esquecer o passado. Para definir essa atitude democrática e liberal, os ingleses usam a palavra comprehensiveness, que o teólogo anglicano brasileiro Jaci Correia Maraschin traduziu por inclusividade. Com esta palavra, segundo o mesmo teólogo, os episcopais ou anglicanos querem expressar a sua franca disposição de incluir na experiência cristã a longa erica tradição católica da igreja universal e, ao mesmo tempo, se abrir às descobertas da Reforma e às coisas novas que o Espírito Santo está sempre nos indicando.
A IEAB tem na Bíblia a principal fonte de doutrina, cujas páginas registram os fundamentos históricos do Cristianismo, embora de maneira não exclusiva. A tradição cristã abrange um conteúdo muito maior do que a Bíblia pode conter. Na tradição está incluída a valiosa contribuição dos grandes santos e pensadores cristãos, a milenar liturgia, o tesouro devocional acumulado durante séculos e as implicações morais da fé cristã na vida diária dos cristãos. A IEAB acredita que as Sagradas Escrituras contêm todas as doutrinas necessárias para a Salvação e nada que nelas não possa ser lido ou provado por elas pode ser considerado como artigo de fé ou necessário para a Salvação.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Fé e Prática
Como é possível ser católico e protestante ao mesmo tempo? Como é possível incluir conservadores e liberais sob o mesmo título denominacional? Como pode uma igreja ser hierárquica (dirigida por bispos) e democrática (governada pelo clero e povo) e ao mesmo tempo? Como entender o conceito da diversidade na unidade?
Na prática, isso significa que as igrejas episcopais ou anglicanas não dizem taxativamente aos seus membros: “Você tem de fazer isso ou aquilo”. Ao contrário, adotam uma atitude de conselho e recomendação: “para o seu próprio bem e para o crescimento na vida em comunidade, convém que você siga o que ensina a sabedoria da Igreja, guiada pelo Espírito Santo e pelas Sagradas Escrituras”. Por isso, para ajudar as pessoas que procuram a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), ela oferece conselhos e ajuda pastoral, formação educacional, espírito de solidariedade, adoração individual e pública e os sacramentos da graça de Deus.
Jesus disse que da mesma forma em que havia sido enviado pelo Pai, assim Ele também nos enviaria (João 20:21). Baseada nesse princípio, a IEAB centraliza sua missão universal em cinco pontos fundamentais:
1. Proclamar as Boas Novas do Evangelho;
2. Batizar, ensinar e nutrir pastoralmente os fiéis;
3. Servir com amor aos necessitados;
4. Lutar pela transformação das estruturas sociais injustas;
5. Zelar pela integridade da vida em todas as suas manifestações.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Casamento e Divórcio
O casamento cristão é um sacramento, um ato solene e público de uma união espiritual e física entre um homem e uma mulher, celebrado por consentimento mútuo e íntimo e com a intenção de que seja para toda a vida. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) celebra o matrimônio entre duas pessoas de sexos diferentes depois de cumpridas as seguintes exigências:
1. Prova de habilitação para casar, de acordo com a legislação civil em vigor;
2. Publicação ou anúncio dos proclamas;
3. Palestra do celebrante com os nubentes em caráter pastoral;
4. Um dos nubentes, pelo menos, deve ser batizado.
A celebração do casamento é um ato público e só pode ser realizado na presença de duas testemunhas, no mínimo, em dia, hora e local previamente anunciados. A IEAB não realiza casamentos por procuração. Também não podem casar os já casados só no religioso e os impedidos na forma da lei civil do país. Os divorciados segundo a lei civil podem casar no religioso, desde que ambos tenham freqüentado a igreja durante, pelo menos, seis meses e a cerimônia religiosa seja precedida de novo casamento civil. Além dessas exigências, deve ser formalizado um processo, no qual conste o translado da sentença do divórcio transitado em julgado. Esse processo será encaminhado ao bispo diocesano para decisão final. Qualquer clérigo da IEAB, por motivos de consciência, pode se recusar a celebrar qualquer cerimônia matrimonial, se que tais razões lhe sejam exigidas pela autoridade eclesiástica.
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Símbolos
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) acredita que Deus é o Criador de todas as coisas e que esse Deus está sempre se revelando na sua criação. A Igreja expressa essa verdade por meio da riqueza de sua adoração e do permanente uso dos dons terrenos, que Ele nos concede: os edifícios, os templos, a música, a arte sacra, os paramentos e outros elementos de uso litúrgico. As flores, as velas, os símbolos e outros objetos que ornamentam o altar embelezam a Igreja e simbolizam a alegria do povo pela ressurreição de Cristo e a verdade de que Jesus é a luz do mundo.
Uma vela, por exemplo, acende milhares de outras velas, sem perder a sua intensidade. Assim também o Espírito Santo infunde a fé em milhares de corações sem perder o seu poder.
As cores do altar e os paramentos do oficiante representam os grandes temas do evangelho e da vida cristã. Entre esses grandes temas, podemos citar a penitência, o sacrifício, a pureza de vida, a vitória sobre o pecado e sobre a morte e a tão desejada e impossível perfeição. As cores mais comuns são o branco que simboliza o Espírito Santo e o verde (a cor da natureza) que representa a universalidade e a esperança. As vestes usadas pelo oficiante, em obediência a um antigo costume da Igreja, simbolizam a natureza e a função do ofício sacerdotal e não a importância da pessoa. As vestes lembram também a natureza democrática da Igreja: os que ocupam o mesmo cargo exercem a mesma função se vestem da mesma maneira.
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) possui seu logotipo ou símbolo. Ele é formado por uma flâmula ou bandeira estilizada, nas cores vermelho e azul, sobre a qual foi colocada uma cruz, histórico emblema do Cristianismo. As cinco estrelas acesas representam o Cruzeiro do Sul e nos lembram que foi em terras brasileiras, no sul do país, que a Igreja Episcopal iniciou o seu trabalho de evangelização. Foi usado pela primeira vez em 1990, por ocasião das comemorações do seu primeiro centenário.
As raízes da Igreja Anglicana estão na primitiva igreja cristã surgida na Inglaterra desde os tempos dos Pais da Igreja. Foram eles que disseminaram a mensagem do evangelho aos mais diferentes e longínquos lugares do mundo. Um desses lugares foram as Ilhas Britânicas, onde o Cristianismo chegou por volta do final do segundo e início do terceiro séculos da era cristã. Ali, se desenvolveu de maneira local e independente (a chamada Igreja Celta). No final do século VI, um grupo de 40 monges, chefiados por Santo Agostinho de Cantuária, chegou ao Reino de Kent – localizado no atual Sul da Inglaterra – para converter os anglo-saxões. Ao chegar lá, ele foi recebido por cristãos celtas da Igreja de São Martinho (a qual recebeu esse nome em homenagem a São Martinho de Tours), em Cantuária.
A Igreja Celta tinha simplesmente evitado as heresias cristológicas dos séculos IV e V, que foram sedimentadas no Concílio de Niceia, Efeso e Calcedônia. Em 603 d. C., Santo Agostinho chamou representantes da Igreja Celta numa tentativa de convencê-los a se submeter às práticas e disciplinas romanas, mas eles se recusaram. Santo Agostinho morreu em 605, mas a questão das diferenças entre a Igreja Britânica e a Igreja Romana continuou sendo motivo de controvérsias. Finalmente em 664, em Whitby, na Nortúmbria, a questão foi resolvida em Concílio, por votação, e através do decreto do rei Oswy.
A obra missionária iniciada por Santo Agostinho foi consolidada por Teodoro de Tarso, monge grego que foi enviado pelo Papa em 669 para tornar-se o sucessor de Agostinho como o segundo Arcebispo de Cantuária. Ele foi enviado para remover as características peculiares do cristianismo céltico e convocar o primeiro Sínodo nacional da Igreja na Inglaterra: O Concílio de Hertford (673).
Durante toda a Idade Média a Igreja Inglesa estava submetida à Igreja Romana. A Inglaterra, como os demais países da Europa, fazia parte e dava sustento ao sistema papal vigente, contudo devido à distância que a separava de Roma, desenvolveu-se desde muito cedo uma Igreja com características estatais e nacionalistas. A Igreja na Inglaterra sempre reclamou a sua independência histórica, e mesmo que durante 850 anos ela tenha sido nominalmente romana, a sua relação com o papado sempre foi conflituosa. Henrique VIII apenas separou a igreja autônoma que lá existia da tutela de Roma.
A reforma inglesa do século XVI havia produzido três partidos ou tendências na Igreja da Inglaterra: o Broad Church Party (igreja ampla), o High Church Party (igreja alta) e o Low Church Party (igreja baixa).
A igreja alta foi revigorada no século XIX pelo Movimento de Oxford. Os anglo-católicos buscaram restaurar elementos teológicos e litúrgicos da Igreja Britânica Pré-Reforma. Usavam no culto público o uso de imagens, velas, crucifixo, incenso, água benta, invocação aos santos e confissão auricular. Foram vitais no renascimento das ordens monásticas anglicanas.
A igreja baixa primava pela simplicidade do cerimonial litúrgico e espírito evangélico de evangelização. Teologicamente, eram protestantes clássicos, reconhecendo certos elementos católicos como os sacramentos e o episcopado histórico. Os anglo-evangélicos foram os grandes responsáveis pelo reavivamento evangélico na Inglaterra e em outros países, com forte preocupação missionária.
A igreja ampla era, de início, um grupo minoritário, mas muito influente devido às suas posições moderadas. Sempre foram o fiel da balança entre o ritualismo anglo-católico e o despojamento evangélico. Hoje, pode-se dizer que boa parte de nossas paróquias enquadra-se na igreja ampla.
O Anglicanismo também é caracterizado por sua flexibilidade teológica. Por ser uma igreja não-confessional, é permitido aos anglicanos discordar em assuntos não-essenciais de nossa fé, descrita nos credos históricos. Também não possuímos um teólogo de vulto ou grande reformador, centrado no qual traçamos nossa teologia. Pelo contrário, lançamos mão do que escreveram grandes homens e mulheres cristãos, não necessariamente anglicanos, ao longo da história da Igreja.
O chamado tripé Escritura-Tradição-Razão é o cerne do modo de se fazer teologia anglicano. Simboliza que esses três elementos devem estar em equilíbrio constante, a fim de perceber o que o Espírito Santo está a dizer para a Igreja.
Com a colonização da América, a a Igreja da Inglaterra (ou Igreja Anglicana) foi estabelecida em muitas colônias como a Igreja Estatal. A Igreja Episcopal Escocesa também havia desenvolvido vida própria. Depois que os Estados Unidos se tornaram independentes, a Igreja Anglicana naquele país se tornou uma denominação livre do poder civil, criando dioceses, paróquias e instituições, e tomando o nome de Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Tanto a Igreja da Inglaterra quanto a Igreja Episcopal dos Estados Unidos iriam patrocinar diversos trabalhos missionários ao redor do mundo.
Com o surgimento de diversas províncias e igrejas nacionais na tradição anglicana, tornou-se necessário definir uma Comunhão Anglicana: uma família de igrejas anglicanas e episcopais em comunhão histórica com a Igreja da Inglaterra e especificamente com a Sé de Cantuária. A palavra anglicana, antes de significar inglês, representa uma grande família cristã internacional. Tal comunhão foi formada pelo desmembramento de trabalhos missionários e ex-colônias do mundo britânico, formando 44 igrejas nacionais ou regionais ao redor do mundo, e compreendendo mais de 160 países. Com cerca de 80 milhões de membros, a Comunhão Anglicana é a terceira maior denominação cristã do mundo, depois da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas.